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Macaenses, a História de Todos Nós ( 3 )

Yolanda T. Dias da Luz F. Ramos

Origem e minha vida em macau

Nasci em Macau onde fiquei até os meus 26 anos .  Eu sou de uma família de seis irmãos.  Meu pai Álvaro Augusto Xavier da Luz era sub-chefe de polícia, mas foi obrigado a aposentar bem cedo por causa de um tiro que sofreu quando foi socorrer uma senhora sendo assaltada numa das ruas de Macau.  O tiro perfurou-lhe o baço e desde aquela data ele ficou com alguns problemas de saúde.  Como aposentado ele trabalhou durante muitos anos no escritório forense do Dr. Carlos Paes d’Assumpção a quem ele tinha muito respeito e admiração.

Quando criança, morei com a minha família na Rua Nova de S. Lázaro, em cujo bairro havia muitos macaenses, como as duas famílias Cordeiro, as famílias Luz, Viana, Mendonça, Bañares, Bernardo, Amorim, Sá e Silva, entre outros.  Cresci brincando na rua com toda a vizinhança.  Éramos crianças livres e felizes como tantas outras crianças macaenses daquela época.   Não havia computadores nem brinquedos eletrônicos, mas tínhamos muita imaginação e a gente improvisava nossos próprios brinquedos como Talú, Cinco-saco, Tapa,  etc.

 

Quando eu tinha 13 anos, a minha família mudou-se para a Calçada do Tronco Velho, localizada na descida da antiga Escola Comercial, em frente ao Teatro Oriental.  A nova casa deu-nos sorte, pois desde que mudamos, o nosso padrão de vida melhorou consideravelmente.  Os meus três irmãos mais velhos, a Cíntia, o José e a Natércia foram trabalhar em Hongkong, como faziam grande parte dos macaenses naquela época por falta de empregos em Macau, e eu e os meus dois irmãos mais novos, o Álvaro e o Rogério, ficamos com os pais em Macau.  Eu cheguei a estudar na Escola Comercial até o 2º ano, mas como queria também trabalhar em Hongkong como os meus irmãos mais velhos, fui estudar inglês no Colégio de Santa Rosa de Lima, mas não adiantou nada porque o meu pai nunca me deixou sair de Macau.  Quando saí do Colégio, prestei concurso para trabalhar na Emissora de Radiodifusão de Macau, e conseguí classificar-me em primeiro lugar dentre inúmeros concorrentes.  Trabalhei na Emissora durante quatro anos e era tudo o que eu queria de um emprego.  Eu era assistente de Alberto Alecrim, o Coordenador da Programação da Emissora e para minha alegria, muitas vezes ele me deixava escolher as músicas de programas como “Miscelânea Musical” ou “Músicas para seu Almoço” porque percebeu que eu tinha sensibilidade por música. Eu e o Alecrim fazíamos um programa escrito por ele intitulado “Vamos Jogar no Totobola” que eram palpites e dicas para os jogadores de totobola, mas com toques de muito humor.  Todas as quartas-feiras subíamos até à torre do Edifício dos Correios (que era onde estava localizada a sala de transmissão da Emissora) e  fazíamos a gravação para ser transmitida à noite – era muito divertido. 

 

A partida de Macau

Só deixei a Emissora uma semana antes da minha saída de Macau para Portugal com o meu marido Manuel e um filho de quase dois anos e uma filha de 6 meses, numa viagem extremamente cansativa por causa das crianças.  Permanecemos alguns meses com os pais do Manuel (que ele não via há oito anos), e depois partimos definitivamente para o Brasil em Setembro de 1970.   Senti muito em deixar Macau, o meu emprego e os meus amigos, especialmente a Helena Silva que era a minha melhor amiga (que lamentavelmente faleceu um mês depois da minha partida, num acidente de carro), os nossos sempre bons amigos Fernanda e Humberto Barros (excelentes companheiros de saídas noturnas - atualmente morando em Califórnia), o Virgílio Mendonça, que mudou-se para Portugal com a família (era o melhor amigo do meu saudoso irmão Álvaro), a minha querida e saudosa amiga e colega da Emissora, Deolinda Joaquim (também já falecida), e os meus amigos de longa data, o casal Antonio e Teresa César, que estão no Canadá.  Aliás, estou muito feliz em dizer que, após ter perdido contato com o Tony e Teresa César (eu procurando por eles e eles procurando por mim durante quase 40 anos!!), acabei de “reencontrá-los” – são de facto, amigos para toda a vida.

 

A Vida no Brasil

O começo da minha vida no Brasil foi um grande choque.  Eu tinha uma boa vida em Macau, com casa do governo, empregada para os meus filhos e eu e o Manuel saindo com amigos quase todas as noites para jantares, coffee shops (adorava ir à Esplanada Waltzing Matilda) e cinemas, e de repente, vim para uma cidade tão grande e confusa, onde tudo era longe, não tínhamos carro, não tínhamos dinheiro, não tínhamos empregada e morando com a minha mãe e irmãos num apartamento pequeno, perturbando a rotina deles.  Graças à minha mãe que cuidava dos meus filhos, pude sair para trabalhar.  Conseguí arrumar emprego com facilidade por causa do meu inglês, mas saía cedo de casa para o trabalho e voltava tarde, por causa da distância e do transporte difícil, e quando chegava em casa ainda tinha fraldas sujas para lavar! 

Chorei bastante com a nova vida, mas ao longo dos anos fui-me adaptando e à medida que meus filhos foram crescendo, as coisas foram melhorando.  Hoje o meu marido e eu somos aposentados e, graças a Deus, estamos bem.  Tenho a confessar que não tenho nada contra o Brasil, o país que tão bem nos acolheu, país de gente alegre e otimista, terra abençoada, quase sem catástrofes naturais, a terra dos ‘jeitinhos’ e onde tudo acaba em ‘pizza’.

Apesar de eu estar aposentada, ainda trabalho.  Sou secretária particular de Alex Airosa, um bem sucedido empresário macaense radicado no Brasil, (integrante do famoso grupo musical dos anos 60/70, “The Thunders”) e atual Presidente da Casa de Macau de São Paulo. 

Sobre a Casa de Macau, o Manuel e eu almoçamos quase todos os Domingos lá, na sua Sede em Interlagos - desde a fundação há 20 anos atrás, onde gostamos de juntar com a ‘malta’, recordar e falar sobre o nosso passado longínquo em Macau.   Nós dois fazemos parte do Grupo Coral “Vozes de Macau” (grupo amador, composto de pessoas ‘maduras’ – 15 mulheres e 4 homens) que, modéstia à parte, estamos cantando muito bem e os ensaios acontecem na própria Casa de Macau aos Domingos  Também fazemos parte do  Grupo de Teatro de Patuá e já tivemos várias apresentações na Casa de Macau, com peças geralmente da autoria de Mariazinha Carvalho com adaptações de Armando Ritchie.

 

Os “Encontros” em Macau

Nunca deixei de ir aos Encontros em Macau.  O que mais me marcou foi o ‘I ENCONTRO DOS MACAENSES’ no começo dos anos 90, porque pudemos, pela primeira vez, levar os nossos filhos para conhecer Macau, onde eles nasceram e ouviram tanto falar e, além disso, era o meu primeiro retorno depois de 23 anos.  Quando o avião começou a descer em Hongkong e vi aquela linda paisagem, chorei de emoção.  Nem preciso falar como fiquei quando pisei o solo da minha querida Macau.  Aí chorei toda a saudade que estava embutida dentro de mim.  Fiquei também muito emocionada em rever todos os meus primos (os Viana, Estorninho), a sobrinha Emília Sales  (filha da Cíntia) e Margarida e Carlos Alberto da Luz (filhos do José) e queridos amigos (os Barros, Mendonça, Deolinda Joaquim e tantos outros) depois de tanto tempo! Ficamos todos mais velhos, mas deu para reconhecer a todos.  Foram acontecimentos muito prazerosos e inesquecíveis.

 

Finalização

Infelizmente naquela época não tínhamos muita esperança de melhorar a nossa vida em Macau (éramos funcionários públicos e tínhamos um futuro incerto – pelo menos assim pensávamos) e por isso, resolvemos emigrar para o Brasil, onde estava a minha família que veio antes de mim.  Jamais poderia imaginar que Macau desse esse ‘BOOM económico’  que mudou, para melhor, a vida de todos que ficaram.  Sorte deles!  Se eu e o Manuel tivéssemos noção disso ou tivéssemos um pouco mais de paciência ou se a minha família não tivesse emigrado para o Brasil, nós jamais teríamos saído de Macau.  Gosto muito de Macau e apesar de já ter mais anos de Brasil que de Macau (26 em Macau e 39 no Brasil), continuo com muitas saudades de Macau – talvez porque foi lá que passei a minha infância e adolescência, foi lá que convivi com o meu querido Pai (que faleceu um mês depois de chegar ao Brasil), foi lá que me casei e tive os meus dois filhos – é por tudo isso e um pouco mais que Macau é e será sempre a minha querida terra, o lugar onde fui muito feliz - a terra das boas comizainas, onde tive as minhas melhores amizades e as minhas melhores lembranças e onde eu gostaria de nunca ter saído...! 

 

Biografia

Sou Yolanda da Luz Ramos, natural de Macau, filha de Álvaro da Luz, de família quatrocentões de Macau, (segundo o livro de Forjás) e de Marcelina Dias da Luz, que era filha de pai português (de Portugal) e mãe chinesa (de Macau).  Sou casada com Manuel Ramos, um português com coração macaense, meu companheiro de todas as horas, e temos dois filhos muito amados, Isabela e Luís Manuel, nascidos em Macau.  Temos também um adorável neto, Vinícius, nascido no Brasil.  Os nossos dois filhos são formados em Administração de Empresas e hoje, graças a Deus, estão bem encaminhados na vida.  Estamos no Brasil desde 1970 e moramos em São Paulo.

 

Em São Paulo moram também os meus dois irmãos, Rogério da Luz, autor deste portal, e Natércia da Luz da Silva.  A minha irmã Cintia da Luz Sales, depois de ficar 10 anos no Brasil, mudou-se com a família para Los Angeles, nos Estados Unidos, onde moram até hoje.

 

Os meus pais Álvaro e Marcelina da Luz faleceram em São Paulo, assim como os meus dois saudosos irmãos, José da Luz (aos 37 anos) e Álvaro da Luz (aos 39 anos).  Eu presto a minha homenagem a eles, meus queridos irmãos José e Álvaro, que partiram tão cedo deste mundo, nesta pequena história da minha vida, a História de Todos Nós.

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MACAU - ANOS 60
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UM ENCONTRO DE AMIGAS NA NOSSA CASA, NA CALÇADA DE TRONCO VELHO NR. 15

Yolanda é a 5a. sentada, a contar da sua direita