FAROL DA GUIA

o mais antigo da China, uma luz no Oriente


Dos cerca de 40 faróis, farolins, bóias de sinalização que existem na península de Macau e nas suas ilhas, há um que se destaca pela sua história e significado - o Farol da Guia, situado na colina com o mesmo nome.

 

O farol mais antigo da China, ele continua a ser um ponto de atracção turística, seduzindo, pelo seu passado e presente os muitos viajantes que ali se deslocam. Macau é, sabe-se, uma terra onde se depositam valiosos testemunhos de um passado onde o Oriente e o Ocidente se confundiram e este também é o caso do Farol da Guia, uma prova monumental como o são o Passeio da Bela Vista, as Portas do Cerco, a Praia Grande, a Penha, as Ruínas de S. Paulo, a gruta de Camões, o templo da Barra.

 

Aceso pela primeira vez em 1865, o Farol da Guia iluminou desde então, ininterruptamente, as costas de Macau, o primeiro, alimentado a petróleo, depois, a óleo de coco e, desde 1909, energia eléctrica.

 

Um aviso aos navegantes, datado de 2 de Outubro de 1 H65, e assinado pelo Cap. do Porto de Macau, João Eduardo Scarnichia, anunciava:

 

 

AVISO AOS NAVEGANTES

 

<<Desde a noute de 24 do mez passado se começou a acender um novo pharol construido na fortaleza de Nossa Senhora da Guia, da cidade de Macau.

 

O pharol está na latitude de 22° 11 'N, e na longitude de 113° 33'E, de Greenwich.

 

A elevação da luz é de 101,5 metros acima do nível do mar, nas mais altas marés de tempo calmo.

 

A torre do pharol mede 13,5 metros da base à cupola, tem a forma octogonal e é pintada de branco. A lanterna é vermelha. A luz é branca e rotatória, fazendo um giro completo em 64" de tempo. Pode ser vista a 20 milhas, em tempo claro.

 

N'esta distancia, a duração da luz é de 6" e a do eclipse de 58".

 

A 15 milhas, vê-se a luz durante 11" e o eclipse dura 54".

 

A 12 milhas, o maior clarão de luz dura 12", e o intervalo do eclipse (de 52") é cortado pelo aparecimento, quazi instantâneo, de uma luz mais fraca.

 

A 7 milhas, a duração da grande luz é de 14", e a do eclipse de 50", aparecendo no meio d' este a pequena luz, como fica dito.

 

Logo que seja possível se publicarão as marcações pelo pharol. para demandar o ancoradouro da rada de Macau.

 

 

Capitania do Porto de Macau, 2 de Outubro de 1865.

 

João Eduardo Scarnicha,

 

Capitão do Porto»

 

 

O primeiro farol funcionava com um candeeiro de petróleo. O autor deste engenhoso maquinismo era um hábil macaense, Carlos Vicente da Rocha, tão curioso era o modelo desse farol que o seu autor o enviou para Lisboa, onde se conservou muito tempo na Sala do Risco. do Ministério da Marinha até que um incêndio o.devorou.

 

Dez anos após a construção deste farol, precipitou-se sobre Macau o mais violento tufão. Foi o próprio construtor do farol, Carlos Vicente da Rocha, que mandou disparar os tiros, anunciando a aproximação deste tufão de 22 de Setembro de 1874. O farol sofreu várias avarias, tendo de ser reconstruída a sua torre.

 

Curiosamente, o farol da Guia serviu durante décadas como aviso para a população, e embarcações, da aproximação de tempestades tropicais. Com efeito, através de salvas de canhões ou, como mais recentemente, pelo içar de sinais apropriados, os habitantes de Macau sabiam antecipadamente a passagem dos tufões, acompanhando a sua evolução passo a passo.

 

Durante 45 anos brilhou este farol no alto da Colina da Guia. O primeiro faroleiro foi um velho soldado chamado Diogo, que se apaixonou pela Guia, passando longas vigílias na contemplação estática do seu farol. E em 29 de Junho de 1910, esse farol cedeu o lugar a outro, de aparelhagem moderna, de rotação, importada de Paris.

 

Os fogos ou luzeiros permanentes ou não, colocados no cimo de torres ou em pontos elevados da terra junto à costa, parece terem sido adoptados logo que o homem começou, navegando, a afastar-se da costa, e serviam para indicar aos navegantes os pontos que importava conhecer, para de noite demandarem os portos.

 

Os navegadores da Odisséia guiavam-se por fogos acesos nos promontórios. Um dos fogos mais antigos de cuja existência se sabe, é o que existia na ilha de Faro (Pharos), colocado em cima de uma torre de mármore branco de 135 metros de altura, mandado construir por Ptolomeu Filadelfo. Esta ilha, que pelo seu nome deu origem à palavra farol, foi ligada 285 anos a. C. por um molhe, à cidade de Alexandria. A torre, uma das sete maravilhas do Mundo, devido a vários tremores de terra que sofreu, acabou por se desmoronar em 1302.

 

Os Romanos tiveram faróis em Óstia, Ravena e Pozzuoli; na Gália o farol de Bolonha, Turris Ordens, datava da época romana e estava ainda de pé no séc. XVI. O farol da Corunha, na costa N. W. da Espanha, reconstruído em 1663, conserva ainda parte da torre edificada pelo~ Romanos no reinado de Trajano (98-117d.. C.). Este farol é o mais antigo existente.

 

Em Portugal, o primeiro farol foi mandado acender em 1520, na torre do convento de S. Francisco, no Cabo de S. Vicente.



 Revista Nam Van foi uma publicação do Gabinete de Comunicação Social do Governo de Macau,

nos anos 80

Nossos Agradecimentos


Publicação Agosto 2010