ADÉ (BIOGRAFIA)

 

 

Popularizado como ADÉ, o nome completo do poeta é JOSÉ DOS SANTOS FERREIRA, nascido em Macau a 28 de Julho de 1919. Como funcionário público exerceu vários cargos de chefia. Depois de aposentado foi Secretário-Geral da STDM. Professor de Português a alunos chineses. Colaborou na generalidade dos jornais portugueses editados em Macau, oo-fundador de alguns. Chefe de Redacção de "O Clarim", "Diário Popular", "Diário do Norte" e Revista "Volante". E ainda do "China Mail" de Hong Kong e da Agência "Associated Press".

Grande parte da vida, ADÉ dedicou-a à divulgação do dialecto macaense, o patois, sendo autor de vasta bibliografia e de recitas, peças de teatro, operetas, etc., que também ensaiava e dirigia. Durante muitos anos foi colaborador activíssimo de muitos programas de Rádio.

Foi presidente do Rotary Club, fez parte da Mesa Directora da Santa Casa da Misericórdia e da Direcção do Clube de Macau.

Desportista, organizou e dirigiu campeonatos e torneios de diferentes modalidades, foi fundador e dirigente do Hóquei Clube de Macau, Associação de Futebol de Macau e Conselho de Desportos, mais tarde Conselho Provincial de Educação Física, a que presidiu. Colaborou e foi dirigente de várias outras Associações e Clubes desportivos.

Em 1979 foi agraciado pelo Presidente da República Portuguesa com o grau de Cavaleiro da Ordem do Infante D. Henrique. O Governador de Macau atribuiu-lhe, em 1984, a Medalha de Mérito Cultural. JOSÉ DOS SANTOS FERREIRA faleceu em Macau, a 24 de Março de 1993.


CD em homenagem ao mestre do Patuá


Dedicatória escrita por Hélder Fernando no cd (não há registo da data em que foi escrita)


"Este disco fala duma terra pequena, muito distante de tantas outras terras onde também ainda se fala português. Uma terra amada e amante, no Sul da Grande China, que foi crescendo, que está crescendo. conquistando espaço por entre o delta do Rio das Pérolas.

Macau é o nome dessa pérola. Onde ainda resiste quem fale e cante numa açucarada e risonha expressão de origens mestiças - chinesas. malaias, africanas, inglesas, espanholas. essencialmente de matriz portuguesa. A dóci papiaçám.

Mas este disco fala também dum povo. O povo macaense, pluricontinental, cruzado a Oriente e a Ocidente, patriota por Portugal.

Um povo que encerra em si mesmo as sensibilidades extremas da autêntica Babel que é a sua raiz. Inventor do patoá, crioula realidade linguística que durante séculos foi o vocabulário familiar, inclusivamente usado por chineses, por africanos e por asiáticos de várias origens. Língua de Macau. imenso campo de estudo para tantos investigadores, hoje quase extinta.

Grande mérito, portanto, de todos aqueles que por diversas formas e tanto entusiasmo, conseguem manter vivo o inesquecível papiá cristãm.

Daí o grande interesse deste documento sonoro que a TRADISOM imaginou com carinho, e produziu para a nossa colecção 'Poetas de Macau'. A figura central desta rara reunião de sons em patoá, é JOSÉ DOS SANTOS FERREIRA. por todos conhecido como ADÉ. Um dos mais ilustres poetas macaenses, aquele que mais e melhor cantou, contou e encantou as suas gentes, a sua terra.

ADÉ partiu a 24 de Março de 1993. Grande parte da sua vida dedicou-a a conceber. Construir, ensaiar espectáculos vários, peças de teatro, récitas. operetas, poesia e prosa. contando e cantando a sua amada Macau.

Também através dos jornais, dos livros que publicava, dos programas de Rádio. E é precisamente à Rádio Macau e a uns quantos que nela trabalham, que se fica devendo o registo guardado destas memórias, protagonizadas neste disco por JOSÉ DOS SANTOS FERREIRA.

Para este trabalho chegar agora às vossas mãos, foi necessário ouvirmos sempre emocionados, dezenas de horas de gravações, dezenas de vezes. Para as seleccionar, de modo a mostrar as mais importantes facetas artísticas de ADÉ, para Ihes melhorar o registo, para as sonorizar. Afinal para Ihes bebermos o sortilégio. o chiste, a ternura, o sentido.

Para também ficarmos. com orgulho, um pouco mais macaenses."



Publicação Agosto 2010