ESPAÇO ABERTO - VANESSA SENE
VANESSA SENE |
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BRASILEIRA, REPÓRTER DO JORNAL MUNDO LUSÍADA, DE SÃO PAULO/BRASIL |
CURIOSIDADES DE UM OUTRO MUNDO
Macau, por uma brasileira
O que existe de mais rico em uma viagem ao exterior,
e mais especificamente a uma região como o arquipélago de Macau, é a grande diferença na cultura, comportamento e hábitos
do povo. Algumas características são tão diversas em comparação a nossa que nos espantamos ao imaginar certos comportamentos
em nosso país. Podemos observar várias questões interessantes pelas ruas como placas com inscrições em chinês e em português.
É impressionante a diferença na parte gastronômica
entre os chineses e os brasileiros. A qualidade de alimentação explica a vida saudável e boa aparência da população. Alguns
pratos tipicamente chineses trazem acelga, arroz branco, cogumelos, leitão, feijão doce, sopa de tubarão com barbatanas, este
especificamente caro. De certo, o que existe de mais pesado e gorduroso na alimentação macaense vem da influência portuguesa
que existe por todo lado, desde bacalhoadas, assados com batata, pães, até os doces portugueses, muito famosos nas chamadas
“pastelarias” de Macau.
Um outro grande exemplo é o meio de transporte
público em Macau, que aqui no Brasil é totalmente improvável. Ao entrar em um ônibus de linha em qualquer parte do arquipélago,
as pessoas devem depositar a quantidade certa da tarifa da passagem em uma pequena caixa de acrílico, sem que ninguém venha
conferir. A população macaense é assim, acostumada a entrar e depositar a tarifa exata e a única pessoa que repara na colocação
do dinheiro é o próprio motorista do ônibus, de seu espelho retrovisor.
Um outro meio de transporte muito comum no arquipélago
é a motocicleta. Enquanto a China é conhecida pela grande quantidade de pessoas, na grande maioria se locomovendo de bicicleta,
em Macau o comum é a motocicleta. É de espantar o “mar” de motos que se pode observar em estacionamentos e calçadas
durante o horário comercial. Jovens, adultos, executivos que apostam na praticidade da motocicleta evitando o trânsito organizado
de Macau.
LARGO DO SENADO - FOTO POR VANESSA |
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CENTRO HISTÓRICO DE MACAU - PATRIMONIO MUNDIAL / UNESCO |
Porém, os carros também são uma febre na região,
na parte da decoração. Muitos são os importados, mas muitos mais são os carros populares com bichos de pelúcia no painel do
veículo, ou forro de desenhos animados nos bancos, como do urso Puff, Hello Kitty, Mickey e Minnie entre outras decorações.
Carros assim são decorados por homens e mulheres, adolescentes e pais de família, pessoas de todas as faixas etárias, todos
entraram na moda dos desenhos. Engraçado, diferente e divertido. As características de um povo que vive tão longe de nós podem
ser classificadas de várias maneiras, mas todas elas chegam a uma só, a do conhecimento.
Vanessa Sene, representante de São Paulo, Brasil, no Encontro de Comunicação
Social III, realizado em Macau no mês de Maio de 2004 e a entrevista realizada com Gabriela Anselmo, diretora
da Escola Portuguesa de Macau.
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“Macau é o melhor lugar para um estudante
se formar”
O Mundo Lusíada traz a entrevista feita com Gabriela Anselmo (em Maio de 2004), diretora da Escola Portuguesa de Macau, no arquipélago mais
diversificado em cultura
Vanessa
Sene- Na diversidade de culturas, culinária e religião, a educação não estaria de fora. Apesar do português ser a língua
oficial juntamente com a chinesa, Macau divide-se em idiomas, dos que falam português, das línguas chinesas mandarim e cantonense,
e de quem domina ambas. A Escola Portuguesa de Macau – EPM foi instituída pelo Estado Português, Fundação Oriente e
Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), em 1998 com a transferência de território de Portugal para Macau.
Como propunha a lei nº 89-B/98 de 13 de Abril de 1998, com o currículo de uma escola portuguesa, reconhecido em toda Europa.
Após a transferência, muitas das famílias portuguesas regressaram a Portugal e a quantidade de alunos foi diminuída. Atualmente,
a escola mantém cerca de 700 alunos.
Mas, diante da diversidade de cultura podemos
nos perguntar: quem são eles? A maioria dos alunos da única escola portuguesa de Macau é macaense, ou seja, filhos de portugueses
com chineses, porém a EPM abrange chineses, portugueses natos e, em um índice muito baixo - americanos e brasileiros. Praticamente
40% dos alunos são de famílias portuguesas, e 60% de famílias locais. Para quem vive em Macau, o aprendizado em relação a
outros povos é tão rica e ao mesmo tempo tão comum, que os jovens estudantes não percebem a lição e o respeito que se adquire
na convivência com pessoas de diferentes costumes. Conversando com uma turma de alunos da EPM, a desatenção foi total. A questão
referente à convivência com diferentes culturas no dia-a-dia é pouco observada pelos estudantes. Entre portugueses, macaenses,
chineses e até um brasileiro na mesma turma, a opinião foi a mesma: “legal”. Espantoso para eles foi ouvir que
Macau é riquíssimo culturalmente.
Natural da Beira Baixa (Portugal), a diretora
Gabriela Anselmo, 42 anos, estudou na França e se graduou em Portugal. Faz questão de voltar à terra natal todos os anos,
“minhas filhas têm que manter uma ligação à família e à cultura delas”. De 20 e 18 anos, suas filhas estudam atualmente
em Portugal, pela falta de opção em curso superior no arquipélago, o que acontece com a maioria dos jovens, ou como outra
opção, seguem estudos em Londres. E como encarregada da educação, Gabriela afirma ao Mundo Lusíada que “os jovens daqui
têm um grande respeito por outras culturas e uma grande abertura, nada os espanta. Se minhas filhas vão a um restaurante tailandês
comem de colher e garfo, se vão ao chinês comem com pauzinhos (faichi/hashi), se vão a um português comem de garfo e faca”
brincou a professora. E para quem diz que Macau é “pequenino” é porque realmente não olha em volta. “No
dia-a-dia, a quantidade de exposições que são anunciadas dá para se espantar, desde pintor francês, costumes tailandeses e
filipinos, até portugueses. Para mim essa é a grande valia de Macau” encerrou Gabriela Anselmo.
A
ESCOLA - Vice-presidente de direção da EPM, Gabriela Anselmo, chegou em Macau há 20 anos para atuar como professora, no
mesmo edifício em que trabalha atualmente, na época como Escola Comercial Pedro Nolasco. Além da EPM existe atualmente uma
escola luso-chinesa, do governo da RAEM, que tem aulas ministradas em português mas com obrigatoriedade da língua cantonense.
Na EPM todas as aulas são ministradas em português e 95% do corpo docente é português. É evidente que após a transição do
Território, os locais e macaenses não vêem o idioma português como um atrativo que era antes de 1999. A cultura chinesa é
mais presente e o idioma português passa a ser a segunda opção, e não a língua materna. Na escola não são todos os funcionários
que dominam o idioma português. Por exemplo, a secretaria da escola domina o inglês, chinês e português. A biblioteca é bilíngüe:
cantonense e português. Já os funcionários de limpeza e auxiliares dos alunos falam somente o chinês. “Estamos fazendo
uma adaptação para eles falarem um pouquinho de português também, não é complicado” disse a diretora.
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