SANTA
ROSA DE LIMA é hoje um nome associado ao Colégio da Rua de Santa Clara
e a centenas de crianças e jovens de farda azul e branca que ostentam as famosas iniciais num alfinete de peito de metal prateado.
Este vetusto local é, contudo, muito mais antigo do que se pensa e nem sempre foi um Colégio. É, isso sim parecem não restar
dúvidas, um marco histórico recheado de acontecimentos ligados à vida da Cidade do Santo Nome de Deus desde quase o berço.
O muro que circunda o Colégio, por exemplo, e a escadaria de acesso são as testemunhas dos tempos mais longínquos datam de
1622.
O primeiro
registo conhecido refere-se ao Convento de Santa Clara, fundado em 1633 por um grupo de Clarissas das Filipinas: Durante um
período de tempo de mais de 100 anos pouco se sabe até que, em 1726, o bispo D. Marcelino José da Silva funda o Colégio Santa
Rosa de Lima que era, na verdade, um Recolhimento para órfãs.
Em
1835 os conventos foram extintos mas Santa Clara sobreviveu. As irmãs Clarissas regressam a Manila e o Recolhimento passou
a ser da responsabilidade de uma comissão directora. Mas de novo será entregue a onze irmãs da caridade, da Congregação da
Missão de S. Vicente de Paulo em 1848. A madre Ramos era a responsável
e instalou as suas irmãs, juntamente com as órfãs, no actual Instituto Salesiano. No entanto, apenas dois anos mais tarde
mudaram-se para o Convento de Santo Agostinho. A estada destas irmãs aqui foi curta: foram banidas de Macau em 1852. Como
consequência o Convento de Santa Clara é transformado em hospital durante doze anos.
O bispo
da altura, D. Jerónimo José da Mata, achou benéfica uma nova mudança das instalações do Recolhimento, que passa a ficar no
Mosteiro de Santa Clara.
Em
1875 os estatutos regulamentares do já Colégio de Santa Rosa de Lima foram aprovados por portaria de 19 de Fevereiro. A regente
do Colégio seria a partir de então D. Teresa da Anunciação Denemberg, cujas virtudes e educação ganharam fama. Uns anos depois,
em 1883, os bens do extinto convento de Santa Clara foram entregues à comissão que dirigia o Colégio.
Nestes
finais do século XIX o estabelecimento de ensino, cuja vida foi sempre um pouco conturbada, é confiado às madres Canossianas
até 1903. A partir desta data vai aproximar-se mais, como Colégio, da instituição que hoje conhecemos. Mas não é ainda a estabilidade!
A convite do então bispo de Macau, D. João Paulino de Castro, as irmãs Franciscanas Missionárias de Maria tomam conta do mosteiro
e assumem simultaneamente a direcção do Colégio. Porém, não se haviam ainda completado sete anos quando, mercê da instabilidade
política e social que se vivia então em Portugal, estas religiosas foram obrigadas a um retiro. Saem de Macau e recolhem-se
em Shui Hing, aguardando tempos mais calmos. E, mais uma vez, o Colégio é entregue a uma comissão directora. O regresso de
religiosas à direcção só se verificou em 1929, com as irmãs missionárias de Nossa Senhora dos Anjos. Mas por pouco tempo.
O bispo D. José da Costa Nunes insistia no regresso das irmãs Franciscanas Missionárias de Maria que acedem e regressam pouco
depois para assumir de vez os destinos do Colégio cujo desenvolvimento é notório a partir de então, finalmente com a estabilidade
merecida.
Contrataram-se
professoras em Portugal e foi aberto o curso liceal. O ensino infantil foi outra inovação introduzida. Paralelamente havia
um curso de economia doméstica, frequentado por muitas jovens macaenses, mães de família e
também
raparigas vindas de Portugal.
No
dia 7 de Dezembro de 1939 foi concedido o alvará do ensino particular liceal e seis meses depois, a 3 de Junho, o alvará de
escola primária. E chegamos à década de 40 que verá a vinda para Macau da madre Gertrudes do Nascimento. É uma nova página
que se abre.
A era da madre Pia
Nas
últimas décadas falar da secção portuguesa do Colégio Santa Rosa de Lima é, inevitavelmente, evocar a madre Pia, que, com
outras sete irmãs, veio reforçar a classe docente do estabelecimento de ensino no ano de 1946. Na altura, os alunos eram quase
todos portugueses, filhos de militares e de farmlias naturais da terra. Já existiam as secções chinesa e inglesa, cada uma
com a respectiva directora e, juntamente com a parte portuguesa, integravam o mesmo edifício. A irmã Gertrudes do Nascimento
assume a direcção da secção do ensino em português no dia 26 de Setembro de 1976. No entanto, com o grande aumento do número
de alunos, principalmente chineses, tomava-se urgente a separação.
Por
outro lado, a melhoria do ensino no Liceu Infante D. Henrique foi, segundo a madre Pia, a principal razão para o progressivo
abandono do Colégio pelos alunos do secundário em língua portuguesa. Por isso mesmo, desde 1963 existe apenas o jardim de infância e a primária. A separação das secções concretiza-se em 1982.
A parte
portuguesa cedeu a sua escola, que funcionava no edifício central ao alto da escadaria, verdadeiro ex-libris do Colégio, e
o convento, por sua vez, cedeu uma zona para as aulas em língua portuguesa num edifício com dois andares que precisou de grandes
adaptações. As obras decorreram durante somente três meses, a duração das férias grandes. Nesse ano as aulas abriram um pouco
mais tarde, não por causa das remodelações mas sim de uma reciclagem às professoras. A parte portuguesa tinha na altura entre
250 e 300 alunos, cerca de 20 a 25 por cada classe. Nos últimos anos ultrapassaram muito os 300 alunos por ano lectivo. Madre
Pia refere os grandes problemas de disciplina que se verificavam na parte portuguesa, pela maior permissividade em comparação
com a secção chinesa, que segue um sistema extremamente rigoroso desde a infantil.
O último ano lectivo do português
Neste
último ano lectivo de 92-93 o ensino primário da secção portuguesa contou com 179 alunos divididos por 5 classes, 2 da terceira
e 3 da quarta. O jardim de infância albergava 100 crianças.
Formaram
gerações de macaenses. Madre Pia diz orgulhosa que entre os antigos alunos do Colégio se conta a Dra. Edith Silva, directora
dos Serviços de Educação, e muitas outras pessoas de destaque na vida da cidade. O Colégio de Santa Rosa de Lima é, sem dúvida,
um marco na educação em Macau, uma referência para tantas famílias naturais desta cidade mas, como tantas outras, tem que
se vergar à evolução e às transformações...
Para
o segundo andar do edifício, onde funcionou a secção portuguesa, irão dez irmãs idosas da Congregação, o resto será ocupado
pelos alunos chineses.
Mas
qual a principal razão para acabar com o ensino em português no Colégio? Madre Pia responde que tal se deve, simplesmente,
a não haver quem dê continuidade a esse projecto. Segundo diz, já não há irmãs interessadas em vir para Macau com a aproximação
da data da transferência da Administração, dentro de seis anos e meio apenas. Quem aqui está fica, continua a obra para que
foram
destinadas,
as irmãs de Portugal agora optam por África que é onde mais precisam delas. Por essa razão há já dois anos que não recebiam
alunos novos. Como é ver fechar a parte portuguesa do Colégio, o trabalho de toda uma vida? Tenho muita pena mas faço-o voluntariamente
porque acho importante saber dar por finda uma actividade quando não há quem a continue. Madre Pia fala do imenso pesar que
muitas famílias sentem e que frequentemente manifestam. No dia 30 de Junho o Colégio fecha as portas da secção portuguesa.
Para sempre. Fica a memória e a saudade.