Carlos "Naio" de Lemos
músico macaense de Toronto / Canadá
"Devemos agradecer os nossos pais, enquanto vivos"
Carlos "Naio" Lemos
"A canção 'Obrigado Pai e Mãe' foi um presente de aniversário para os meus pais, quando o meu pai fez 91 anos em 2005. Na altura, queria oferecer-lhes um presente que podia expressar os meus sentimentos e tentei assim fazer através duma canção (não sou músico, esta é a primeira canção que escrevi)". Assim conta o Carlos "Naio" de Lemos, que estudou no Seminário de São José em Macau, para justificar o lançamento do seu CD particular e não comercial. Foi distribuído gratuitamente no Encontro 2010 em Macau, pela sua esposa Vitória Gomes.
"Comecei a melodia com palavras em Inglês, porque era mais fácil, visto ter saído de Macau há mais de 30 anos e em seguida escrevi em Português. Como a minha mãe era Chinesa e não percebia o Português ou Inglês, então, com ajuda de amigos chineses completei as palavras em chinês.
Com a ajuda do Armando Santos e outros membros do grupo 'Ecos de Macau' em Toronto/Canadá, gravamos inicialmente as 3 línguas numa só canção para o dia do aniversário - o meu irmão cantou a parte em inglês, a minha irmã Adelaide cantou a parte da língua portuguesa e eu a parte em chinês."
Acrescenta com emoção "não é preciso dizer que foi um momento muito emocional e estou muitíssimo satisfeito de ter feito isto, porque tivemos a oportunidade de expressar aos nossos pais, o nosso carinho e gratidão enquanto eles estavam vivos"
A gravação do CD veio em 2010, em memória aos seus pais, e também para compartilhar com as pessoas esta importante mensagem, "devemos agradecer os nossos pais enquanto vivos".
Quanto à canção "A Song for a Friend" com o acompanhamento musical do Armando Santos, diz que escreveu para o seu antigo chefe, quando ele completou 71 anos em 2007.
Ouça Música
as 3 versões da canção
Obrigado Pai e Mãe - Thank You Mom & Dad
clicar na seta para reproduzir
versão em inglês
versão em português
versão em chinês - cantonense
A Song for a Friend
(canção para um amigo)
Carlos (Naio) de Lemos
“um pouco de mim”
Eu morava no bairro de Santo António e estudei na Escola Canossa (perto do jardim de Camões). Ainda lembro que um dos colegas era o Fernando Lopes (Sán Chá). Estudei o primário no Seminário de S. José em 1955-1959. Os colegas do tempo eram os irmaõs Carion; o Pedro Araújo (neto do P. Lobo), os irmãos Batalha da Silva (Nano e Toni); Joaquim da Paz (À Hón); Calinho Oliveira e outros. Em 1960, fui para a Escola Comercial e completei o curso secundário em 1966. O Carlos Santos (Canicha) e o Frederico Rego foram uns dos meus colegas desde o primeiro ano com quem eu juntava com frequência para cantar as canções do 'Beatles' e do 'Rolling Stones' com viola emprestada e batia na mesa como bateria. Naquele tempo a gente não tinha dinheiro para comprar instrumentos musicais. Em Macau trabalhei em vários sectores: Hotel Estoril; Serviços de Finança e Serviços de Economia.
UM DIA INESQUECĺVEL 13 (Sexta Feira) de Fevereiro de 1970
“memória do tempo da tropa”
Fui recruta do exército em 1970 na Ilha Verde e no meu pelotão estavam, entre outros, o Manuel Costa; o Francisco Manhão (Alemão); o Armando Ritchie; Frederico Martins; os irmãos Nunes; O Virgílio Carvalho; o Mário Sin e outros. Tivemos bons e maus momentos mas o que aconteceu na manhã do dia 13 (sexta feira) de Fevereiro de 1970 ficou gravado para sempre na memória de todos. Nesta manhã, o tempo estava frio e chuvoso e de costume (todas as sextas) tivemos que correr com a espingarda no ombro até o campo de Món Há. Na frente da fila estava o Alemão e atrás dele estava o Manuel Costa.
A ordem do alferes era para que todos fizessem o mesmo que o Alemão fazia no campo. Este quando chegou perto dum tanque com água suja e preta fez o gesto de quem quer dar um mergulho e todos berraram 'não faça isso'. O Alemão sorriu e com cara de gozo, continuou a correr voltando para o mesmo local três vezes repetindo o mesmo gesto de querer dar um mergulho. Pela terceira vez, o Manuel Costa (brincalhão e gozalhão) deu-lhe um empurrão e o Alemão foi de “focinho” para o tanque de água suja. Seguindo a ordem do alferes todos nós tivemos que dar um mergulho no tanque. Tudo molhado regressamos ao quartel e o alferes deu 10 minutos para a gente se limpar e mudar de farda. Houve grandes discussões na caserna (parece impossível), se devíamos usar camisola de lã ou camisa, visto uns não tinham camisa limpa. O tempo correu e quando o último recruta chegou na formatura, eram 17 minutos de atraso. O alferes estava furioso e neste maldito momento passou o capitão. Este veio a saber o que estava a acontecer e ordenou o castigo “rastejar 17 vezes até o topo da colina e rolar para baixo”. Todos nós vimos estrelas e planetas a girar. O “causador” Alemão após meia dúzias de vezes, parou no meio da colina queixando-se que já não podia continuar (Kuai Chen ou fitas?). Ensopado de chuva e lama; com lágrimas nos olhos de zanga e soltando palavrões (em voz baixa), eu podia ver vapor a sair do corpo de outros e também através das 4 camadas de roupas que eu tinha (1 camisola interior de algodão; 1 camisola de lã de ovelha; 1 camisa (farda) e por fora 1 camisola de lã (farda). Quando terminou o castigo, as mangas da minha camisola da tropa chegavam até os meus joelhos por causa do peso da lama e da água.
A VIDA NO CANADÁ
Casei-me em Macau (1973) com a Vitória Gomes e após o revolução de 25 de Abril, 1974, decidimos emigrar com a família para o Toronto, Canadá. Saí de Macau em Setembro de 1974. Apanhei um emprego num banco Canadiano onde ainda estou empregado. Em Toronto, vou com frequência à casa do Manuel Costa para bater papo, ou juntamente com outros Macaenses na brincadeira a tocar e cantar umas canções. Chegámos a tocar várias vezes nas festas da Casa de Macau no Toronto.
Conforme tinha informado, a canção 'Obrigado Pai e Mãe' foi escrita em 2005 como presente de aniversário para os meus pais, quando o meu pai fez 91 anos.
Carlos "Naio" Lemos
Março 2011
Naio, Obrigado pelo seu contributo ao PMM !!!
Publicação Março 2011