Jornal Tribuna de Macau - edição de 14/Maio/2009


Morreu o general Lopes dos Santos, governador de Macau nos anos 60 O último governador português de Cabo Verde e ex-governador de Macau, general António Adriano Lopes dos Santos, faleceu sexta-feira (11/Maio/2009) aos 89 anos de idade António Adriano Lopes dos Santos, que desde 2000 presidia à Fundação Jorge Álvares, foi um general da arma de Engenharia e ocupou altos postos militares antes e depois da Revolução de Abril de 1974.

No capítulo da sua vivência militar destacam-se a chefia do Estado-Maior da Guarnição Militar de Macau (entre 1956 e 1958), a comissão civil como governador do distrito de Moçambique (1959-1962), o exercício das funções de comandante-chefe e governador de Macau (1962-1966) e a comissão como governador de Cabo Verde (1970-1977). Lopes dos Santos foi ainda segundo comandante militar e comandante operacional adjunto do comando-chefe na Guiné, entre 1968 e 1970.

Após a Revolução do 25 de Abril de 1974, António Lopes dos Santos foi promovido a general e nomeado vice-chefe do Estado-Maior do Exército, passando no ano seguinte a exercer funções de director do Centro de Estudos Militares e do Instituto de Defesa Nacional. No período de 1982 a 1989 presidiu ao Conselho Superior de Disciplina do Exército.


A sua experiência como governador de Macau deixou algumas marcas importantes no território, pela sua visão estratégia, designadamente no que se refere ao sector do Jogo, como recordou no ano passado o tenente-general Garcia Leandro, num depoimento enviado ao jornal “Ponto Final”.

“Governou Macau em época politicamente difícil para Portugal e para a China, a que se adicionaram também problemas financeiros locais, tendo criado um excelente relacionamento com as comunidades locais e com os representantes da R.P. da China. Deste período ressalta como decisão fundamental o ter alargado para 25 anos a concessão do jogo à STDM, com revisões possíveis em cada cinco anos”, salientou Garcia Leandro, que além de também ter sido governador de Macau (1974-1979) foi ainda colega de Lopes dos Santos na Fundação Jorge Álvares e igualmente presidente do Instituto de Defesa Nacional.  Na altura, Garcia Leandro afirmou ainda que, embora o contrato com a STDM tivesse representado um grande salto qualitativo dado pelo antecessor de Lopes dos Santos - Jaime Silvério Marques - em 1961, a fixação de um limite de apenas cinco anos “não permitia exigir àquela Sociedade um plano de grandes investimentos de médio e longo prazo”.  “Com a alteração de Lopes dos Santos tal tornou-se possível, situação de que ainda vim a beneficiar com a primeira grande revisão do contrato dos jogos com a STDM assinado em Abril de 1976, em que a posição do Governo saiu muito reforçada, não só nas receitas que aumentaram muito, mas também noutras condições como as relacionadas com a fiscalização e respectivo controlos. Foi um processo muito difícil e tenso, tendo o futuro vindo a provar a justeza das exigências do Governo; veio a verificar-se que a SDTM poderia pagar muito mais, o que posteriormente se concretizou. E uma árvore para crescer precisa sempre de uma semente; o bem-estar e os réditos que Macau passou a receber e que têm vindo sempre em crescendo têm a sua origem nestas sementes lançadas há mais de quarenta anos”, disse Garcia Leandro.

No mesmo depoimento, Garcia Leandro considerou, por outro lado, que Lopes dos Santos, “um transmontano de gema, grande caçador, foi um excelente administrador, sendo um homem gerador de consensos, o que tem continuado a demonstrar na Fundação Jorge Álvares”.

Recorde-se que, em Junho deste ano, Lopes dos Santos foi um dos promotores do almoço que juntou quase dois mil ex-residentes de Macau em Mafra. A iniciativa, cujo lançamento contou ainda com a participação dos antigos governadores do território Garcia Leandro, Melo Egídio, Almeida e Costa, Joaquim Pinto Machado, Carlos Melancia e Vasco Rocha Vieira teve como mote o 10º aniversário de transferência de soberania de Macau. 


CONDECORAÇÕES. No currículo de Lopes dos Santos constam mais de duas dezenas de louvores e menções honrosas pelas suas actividades militares e civis, consubstanciados no último louvor, ao passar à situação de reforma.

No vasto rol das suas condecorações merecem relevo as do Grau da Cruz de 1ª e 2ª Classe da Ordem de Mérito Militar de Espanha, Comendador da Ordem Militar de Aviz, Grande Oficial da Ordem do Império e Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, entre outras.  O general agora falecido é ainda cidadão honorário da cidade de Macau, do concelho da Taipa e Coloane, da cidade da Praia na ilha de Santiago e da cidade de S. Filipe na ilha do Fogo, ambas de Cabo Verde.

Lopes dos Santos nasceu em Bragança, a 28 de Dezembro de 1919, frequentou a escola primária na Figueira da Foz e o Liceu de Emido Garcia, em Bragança. Na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto completou o Preparatório de Engenharia (1936-1939), antes de ingressar no primeiro ciclo de oficiais milicianos na Escola Prática de Infantaria, em Mafra. Entre 1939 e 1943 cumpriu o curso de Engenharia Militar na Escola do Exército, seguindo-se passagens pelo Polígono de Tancos para o tirocínio na Escola Prática de Engenharia (EPE), onde viria também a fazer a especialidade de Sapadores de Assalto, cuja instrução viria mais tarde a dirigir.

Em matéria de experiência empresarial e civil, Lopes dos Santos dirigiu de 1971 a 1995, com alguns interregnos, uma empresa agrícola do tipo familiar, e foi entre 1975 e 1976 coresponsável pela reconstituição do Instituto de Altos Estudos de Defesa Nacional, posteriormente designado por Instituto de Defesa Nacional.  No âmbito da sua participação na vida civil destacam-se ainda o facto de ter presidido à direcção de uma associação de caçadores, à Assembleia-Geral da Liga da Multissecular Amizade Portugal-China, bem como à direcção da Fundação Jorge Álvares, substituindo no cargo o general Rocha Vieira.

A sua actividade estendeu-se ainda ao Desporto, tendo sido sobretudo um entusiasta do Hipismo e das actividades cinegéticas, e ao campo literário.  No domínio da actividade literária são da sua autoria diversos artigos publicados na Revista de Engenharia Militar, bem como os Relatórios do Governador do Distrito de Moçambique (três volumes), Relatórios do Governador de Macau (quatro volumes), além da comunicação “Macau, Passado, Presente e Futuro”, apresentada numa conferência que teve lugar em Outubro de 1966 no Instituto Superior de Estudos Ultramarinos, e várias publicações sobre Cabo Verde.

Lopes dos Santos foi ontem (14/Maio/2009) a enterrar no Cemitério de Rio de Mouro, concelho de Sintra, após uma missa de corpo presente na Igreja de Nova Oeiras.


Agradecimentos ao Jornal Tribuna de Macau


Publicado em Setembro 2011