Governador Vasco Rocha Vieira abraça a bandeira portuguesa após o seu arriamento no Palácio de Governo



Biografia do último Governador Português de Macau

Tenente-General Vasco Rocha Vieira

 

O General Vasco Rocha Vieira nasceu em Lagoa, Portugal, em 16 de Agosto de 1939.

Passou a maior parte da infância em Moçambique.

Regressado a Portugal, frequentou o Colégio Militar em Lisboa e, em 1956, regressou à Escola do Exército.

Frequentou o Instituto Superior Técnico de Lisboa, por onde se licenciou em Engenharia Civil. É autor de alguns trabalhos nesta área e foi colaborador da Câmara Municipal de Lisboa de 1969 a 1973.

Foi professor na Academia Militar de Lisboa entre 1968 e 1969.

Esteve colocado em diversas unidades militares ou Quartéis-Generais em Portugal Continental e efetuou comissões de serviço em Angola (1965-68) e em Macau (1973-74), onde foi Chefe do Estado-Maior do Comando Territorial Independente.

Integrou o núcleo original de oficiais das Forças Armadas Portuguesas que viria a dar corpo ao chamado Movimento dos Capitães, promotor, em 25 de Abril de 1974, da instalação de um regime democrático em Portugal.

Entretanto colocado em Macau, foi nomeado, em final de 1974, Secretário--Adjunto para as Obras Públicas e Comunicação do Governo daquele território sob administração portuguesa.

No ano seguinte foi chamado a Lisboa para exercer o cargo de Diretor da Arma de Engenharia do Exército, funções que desempenhou até 1976. Integrou, entretanto, o grupo de oficiais moderados que, em 25 de Novembro de 1975, neutralizou as tentativas de setores minoritários das Forças Armadas de radicalizar o jovem regime democrático português.

Entre 1976 e 1978 foi Chefe do Estado-Maior do Exército e membro do Conselho da Revolução, por inerência do cargo. Foi nomeado, em 1978, representante militar português junto do Comando Aliado da Europa/NATO (NATO Supreme Headquarters Allied Powers in Europe-SHAPE), em Mons, Bélgica, funções que desempenhou até 1982.

Completou, em 1983, o Curso Superior de Comando e Direção, de preparação para oficial general, no Instituto de Altos Estudos militares de Lisboa.

Em 1983-84 foi. professor no Instituto de Altos Estudos Militares e, em 1984, foi nomeado Subdiretor do Instituto de Defesa NacionaI, cargo que ocupou até 1986.

Foi Ministro da República para a Região Autónoma dos Açores desde Julho de 1986 até Abril de 1991.

Em 1987 foi promovido ao atual posto de Tenente-General.

Tomou posse como Governador de Macau em 23 de Abril de 1991.

Como Governador, durante a maior parte dos 12 anos do período de transição anterior à transferência da administração de Macau de Portugal para a República Popular da China, de 19 para 20 de Dezembro de 1999, foi responsável por um vasto programa de realizações que teve como principais objetivos o reforço da identidade própria de Macau, a consolidação da sua autonomia e a promoção do território como plataforma regional moderna e útil, com um papel específico, hoje e no futuro, nas relações da China com o exterior.

Sob a sua administração, Macau assistiu, nos últimos anos, ao reforço do sistema político local e do estado de direito, nomeadamente através da consolidação do sistema judicial, à reforma do sistema de educação, à formação de quadros e élites, à modernizaçao e extensão universal dos sistemas de saúde e assistência, à rnelhoria da proteção ambiental, ao aparecimento de obras imponentes como o Centro Cultural e o Museu de Macau e à construção de infraestruturas essenciais como novas pontes e sistemas rodoviários e o moderno Aeroporto Internacional de Macau.

Nomeado Governador de Macau em 1991 pelo Presidente Dr. Mário Soares, foi confirmado no cargo em 1996, após a eleição do novo Presidente, Dr. Jorge Sampaio.

O Exército Português nomeou-o, em 1995, Diretor Honorário da Arma de Engenharia.

Ao longo da sua carreira, foi agraciado com varias condecorações nacionais e estrangeiras.

Entre outras comendas nacionais, recebeu a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, o grau de Comendador da Ordem Militar de Aviz, a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, e, no âmbito da sua vida militar, a Medalha de Serviços Distintos, Ouro e Prata, a Medalha de Mérito Militar, 1ª e 3ª classes, e a Medalha de Comportamento Exemplar, Ouro e Prata.

Entre outras distinções estrangeiras, foi condecorado com o grau de Grande Oficial da Ordem de Leopoldo da Bélgica, a Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco do Brasil, a Ordem de Mérito dos Estados Unidos da América, o grau de Comendador da Legíão de Mérito de França e a Grã-Cruz da Ordem do Tesouro Sagrado do Japão.

O General Rocha Vieira é casado com Maria Leonor de Andrada Soares de Albergaria. O casal tem três fillhos.(site oficial do Governo português de Macau)

Em 20 de dezembro de 1999, presidiu o arriamento da bandeira portuguesa do Palácio de Governo, na Praia Grande, e tendo-a recebido das mãos do oficial responsável, foi protagonista da fotografia que marcou para sempre a história de Macau, ao encostá-la junto ao seu peito e caminhado desta forma até o veículo que o levou ao Centro Cultural para a última cerimônia da transição da administração à China.


 Governador Vasco Rocha Vieira - pronunciamento anterior à transição de Macau

Prolongar a História no futuro

publicado no A-Ma-Gau – Ecos de Macau


Macau coloca a Portugal um desafio de primeira grandeza, um desafio onde se combina a responsabilidade pela nossa História, mas também um desafio em que nos confrontamos com o futuro, com a participação nas correntes da modernização. Há mais de quatro séculos, quando chegámos à China, participávamos na afirmação da cultura ocidental, na descoberta de outras terras e de outras culturas. Durante este longo período, estabelecemos relações de amizade e de cooperação com o povo e com as autoridades chinesas. Agora que se aproxima o momento de transferirmos as responsabilidades da administração de Macau para a China, podemos estar orgulhosos da obra realizada.


O Território tem hoje as infra-estruturas necessárias para poder afirmar a sua autonomia no quadro de uma região em rápido desenvolvimento em que Macau participa não só de pleno direito, mas também com as condições necessárias pata a concretização das suas oportunidades económicas. 0 desenvolvimento, porém, não é só uma questão de infra-estruturas modernas, também é o resultado da qualidade das instituições e das garantias de defesa dos direitos humanos fundamentais. Também neste aspecto, podemos ter orgulho da obra feita em Macau, que tem um sistema político onde está assegurada a separação dos poderes e com um sistema judicial independente, com legislação escrita (o que, sendo normal no Ocidente, não é uma característica da cultura chinesa) e com garantia de defesa, no quadro dos direitos definidos na lei.


Estes são traços da nossa cultura que permanecerão vivos em Macau para além da transição das responsabilidades de administração de Portugal para a China. E ficarão, sobretudo, porque Portugal tem todas as condições, e todo o interesse, em continuar presente em Macau: é o seu direito, reconhecido no quadro das relações de amizade e de cooperação estabelecidas e consolidadas com a China, mas é também a sua obrigação, para acompanhar o processo de modernização da sociedade e da economia chinesas que poderá constituir um dos factores mais relevantes da evolução do mundo nos próximos anos.


É também por isso que Macau coloca à União Europeia um desafio muito imediato, pois não poderá ficar alheia ao desenvolvimento da sociedade chinesa e não poderá deixar de considerar a oportunidade que Macau oferece como plataforma de cooperação e de relação estreita com a China, com as suas províncias de crescimento económico mais rápido e que estão mais abertas à consolidação de relações económicas e culturais com a Europa e com os valores ocidentais. Através da União Europeia, Portugal e os Portugueses poderão reforçar as suas oportunidades de cooperação com Macau para além de 1999, dando assim realidade prática ao que foi aberto como potencialidade pelos governos de Macau que tiveram a responsabilidade de conduzir o Território durante estes anos de transição.


O facto de mantermos abertas as portas do entendimento que permitem passar de Macau para a China sem encontrar dificuldades, resistências ou desconfiança é, afinal, a melhor prova, a confirmação, de que Portugal se pode orgulhar do que fez e deixa realizado em Macau. Mas a nossa real responsabilidade será continuarmos presentes, por nós e no quadro da União Europeia, porque Macau precisa dessa presença e a China reconhece-a como legítima e como positiva. Só depende de nós prolongarmos, no futuro, aquilo que a História nos legou como herança que merece ser respeitada e valorizada.

 

Vasco Rocha Vieira

Governador de Macau

Macau 20 Dezembro 1997

 13 ANOS DEPOIS DO PRONUNCIAMENTO DISCURSA NO ENCONTRO MACAU 2010



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 Publicação Julho 2011