Patuá de Macau


O que é o Patuá de Macau? Uma língua antiga que era falada em Macau, uma maneira simples de explicar. 

Melhor deixar para o que foi publicado no Wikipédia (enciclopédia livre), que com muita autoridade explica a sua origem. 

Hoje o Patuá tenta sobreviver na comunidade macaense em Macau e na Diáspora.  Há um movimento para que seja classificado como Património Mundial Intangível ou Imaterial.  A comunidade macaense mobiliza-se para tentar preservá-lo, especialmente em Macau, através do teatro, música, livros, até dicionário.  Um brasileiro, na sua assinatura no Livro de Visitas, o classifica como "exótico".  No Brasil, tem como irmão, o português caipira.

Vamos juntar forças para preservar o Patuá.  É a cultura macaense, a nossa cultura !!!


Patuá, segundo a Wikipédia

Patuá macaense, também chamada Crioulo macaense, Patuá di Macau, Papia Cristam di Macau, Doci Papiaçam di Macau ou ainda de Macaista Chapado, é uma língua crioula de base portuguesa formada em Macau a partir do século XVI, influenciada pelas Línguas chinesas, malaias e cingalesas. Sofre também de alguma influência do inglês, do tailandês, do espanhol e de algumas línguas da Índia.

Actualmente continua a ser ainda falado por um pequeno número de macaenses que vivem em Macau ou no estrangeiro, na sua maioria já com uma idade avançada.

 

História e Evolução

Este crioulo foi originalmente desenvolvido pelos macaenses e, ao longo dos séculos, sofreu muitas mudanças na sua gramática, fonética e vocabulário para responder à evolução da demografia e da cultura de Macau. Alguns estudiosos dividem o patuá em dois tipos: o arcaico, falado até século XIX, e o moderno, desenvolvido e falado a partir do século XIX e muito influenciado pelo cantonês.


O Patuá era dominado e falado por um grande número de macaenses e por alguns chineses de Macau, principalmente as esposas chinesas de portugueses. Para eles, o patuá é mais fácil de aprender e pronunciar visto que este crioulo tem influências chinesas. Até ao séc. XIX, ele tornou-se numa língua importante de comunicação entre os macaenses, os chineses e os portugueses, e contribuiu bastante para o desenvolvimento socio-económico da Cidade. Mas, mesmo durante o seu apogeu, o número de falantes deste crioulo era relativamente baixa, não ultrapassando as dezenas de milhares.


Durante todo o séc. XIX, muitos macaenses (um grupo deles já emigraram para a recém-formada colónia britânica de Hong-Kong durante o séc. XIX) continuaram a falar o Patuá em oposição ao Português-padrão (falado em Portugal) usado pelas autoridades portuguesas de Macau, embora este crioulo não gozasse de nenhum estatuto oficial ou especial. Muitos deles usavam o Patuá como um meio para criticar satiricamente as autoridades. José dos Santos Ferreira é um dos poucos escritores e poetas de Macau que utilizam este crioulo nas suas obras.


Nos finais do séc. XIX, a importância e o uso do Patuá diminuiu drasticamente porque o Governo Central de Lisboa começou a efectuar uma série de reformas educativas para implementar o Português de Portugal em todas as colónias portuguesas, tornando-o numa língua-padrão de comunicação dentro do Império Português. Macaenses de alta estirpe social gradualmente deixaram de usar o Patuá e a adoptarem o Português-padrão ensinado nas escolas, tendo passado a encarar este crioulo como uma língua mais apropriada para as classes baixas, considerando-o um tipo de "Português primitivo". As reformas educativas foi um sucesso, com o número de falantes do Patuá a continuar a descer drasticamente porque este crioulo perdeu a sua importância de ser uma língua de comunicação entre os chineses, os macaenses e os portugueses.


Esta diminuição do uso do Patuá foi tão forte que, actualmente, ele está em vias de extinção, com cada vez menos macaenses que dominam este crioulo. O português, bem como o inglês e o cantonês (cada vez mais portugueses dominam este dialecto), tornaram-se nas novas línguas de comunicação entre eles. Em Macau, existem várias instituições culturais, tais como o famoso "Grupo de Teatro Dóci Papiáçam di Macau", e grupos de macaenses que querem salvar e divulgar este crioulo, uma língua única e histórica de Macau. Esforçaram-se para proteger este crioulo, fazendo muitas peças teatrais e música em Patuá e também publicando um Dicionário Português-Patuá, em 2001. Eles pretendiam também incluir o Patuá no Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade da UNESCO.


Apesar deste esforço e do carácter único do Patuá, este crioulo recebeu muita pouca atenção dos estudiosos de línguas e da comunidade internacional, constituindo um facto lamentável.

 

 

Vocabulário

A maioria do vocabulário do Patuá é derivado do português e também do malaio e de crioulos de base portuguesa formados na Península Malaia (nomeadamente o Kristang), da Língua sinhala, de crioulos Indo-Portugueses e do Cantonês. Exemplos de palavras de origem portuguesa: Macau, casa (casa), mae (mãe) e filho (filho); de origem malaia: sapeca (moeda) e copo-copo (borboleta); de origem cingalesa e indiana: fula (flor) e lacassa ("vermicelli"); e de origem cantonensa: amui (rapariga) e laissi (os chamados "pacotes vermelhos").

 

Tal como muitas línguas asiáticas, o Patuá tem falta de artigos definidos, de pronomes pessoais (ex: io que significa "Eu" e "meu") e as suas formas verbais não mudam com as pessoas gramaticais (ex: io sam significa "Eu sou" e ele sam significa "Ele é").

 

Os verbos que transmitem acções contínuas são compostos, além do verbo em si, pela partícula ta (derivado do verbo português "está"), e aqueles que transmitem acções já completas (acções do passado) são compostos, além do verbo em si, pela partícula ja (derivado do advérbio português "já").

 

O Patuá tem uma maneira muito especial, também utilizada na gramática malaia, para fazer o plural das palavras que consiste em duplicar a própria palavra (exs: casa-casa = "casas"; china-china = "pessoas ou coisas chinesas"; cedo-cedo = "muito cedo").

 

Este crioulo não tem um padrão na ortografia e na escrita.

Exemplo de um poema em patuá:

Patuá     Tradução para português

 

Nhonha na jinela                A moça na janela

Co fula mogarim               Com uma flor de jasmim

Sua mae tancarera            Sua mãe é uma Chinesa pescadora

Seu pai canarim                 Seu pai é um Indiano Português

 

Exemplo de um outro poema:

Patuá     Tradução para português


Língu di gente antigo di Macau                       A língua da gente antiga de Macau

Lô disparecê tamên. Qui saiám!                    Vai desaparecer também. Que pena!

Nga dia, mas quanto áno,                             Um dia daqui a alguns anos

Quiança lô priguntá co pai-mai                   A criança perguntará aos pais

Qui cuza sä afinal                                           O que é afinal

Dóci papiaçam di Macau?                           A "língua doce" de Macau?

 

 


Publicação Agosto 2010